quarta-feira, 4 de maio de 2011

Ernesto

                                                                                                 Ernesto Sábato e José Saramago



Muitos personagens da história tem levado por nome Ernesto, de etimologia germânica ernest=serio.
Oscar Wilde em 1895 escreveu "The importnace of Being Earnest", traduzido como "A Importância de se chamar Ernesto" ou também, "A Importância de ser Honesto". É que o escritor irlandês brinca com os fonemas ingleses Earnest/Ernest, usados para identificar a personagem imaginária de sua comédia.

Aqui no Brasil, Ernesto lembra o general gaúcho que governou durante os anos 1974-79. Mas o Ernesto mais famoso e mítico é, sem dúvida alguma, Ernesto Guevara de la Serna, “el Che”, do qual não poderia agregar aqui nem uma palavra, às tantas que já foram escritas sobre ele. Porém, hoje eu queria falar de outro Ernesto, também argentino,  também controverso.
Na madrugada do recente 30 de abril veio a falecer, em um subúrbio de Buenos Aires, o escritor Ernesto Sábato.

Anarquista e  comunista na sua juventude,  obteve o doutorado em física no ano de 1938 na Universidade Nacional de La Plata. Trabalhou no Laboratório Curie em Paris e no Massachusetts Institute of Technology nos Estados Unidos. Em 1943, já em Buenos Aires, se afasta da área científica, para se dedicar totalmente à literatura. Sua obra mais importante foi o romance "Sobre Heroes y Tumbas" publicado em 1961. Mas de vinte anos depois, foi galardoado com o prêmio Cervantes, o maior reconhecimento para um escritor de língua espanhola.

Ernesto Sábato foi um profundo humanista. No ano de 1983 foi presidente da CONADEP (Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas). Editou o livro "Nunca Mais" que foi a base para os processos que levaram à condenação dos golpistas por crimes de tortura, sequestro, assassinato e desaparição de pessoas.

Como tudo na argentina, sua vida não esteve livre de contradições e, até o final de seus dias, foi perseguido  pelos fantasmas da sua relação controversa com alguns personagens da ditadura.
Alguns detratores o acusam de ter subscrito, de alguma forma, a "teoria dos dois demônios" que tenta justificar o genocídio sistemático que acabou com toda uma geração, e que a ditadura chamou de "guerra suja".

Porém, nunca tudo é tão claro, nunca tudo é preto ou completamente branco. Existem cinzas, as vezes difíceis de compreender ou distinguir. Acho que essa cor, cinza, descreve muito bem os últimos anos do escritor: uma longa despedida da vida e um namoro apaixonado com a morte.

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