quarta-feira, 25 de maio de 2011

Cidadãos Ilustres




Nosso  inimigo principal não é o imperialismo, nem a burguesia, nem a burocracia. Nosso inimigo principal é o medo, e o levamos dentro”.
(Domitila Bairros, uma das valorosas mulheres que ajudaram a derrocar a ditadura militar boliviana em 1978).

Noticias sobre o Mercosul aparecem na grande mídia brasileira quando existe algum conflito comercial entre Brasil e Argentina. Geralmente, a disputa é induzida pela FIESP (“Federação das Indústrias do Estado de São Paulo”) e a UIA (“Unión Industrial Argentina”) que pressionam os respectivos governos representando exatamente os mesmos interesses (e o mesmo capital) de ambos os lados da fronteira. Porém, o Mercosul é (ou deveria ser) muito mais do que um acordo comercial para agradar capitais com vantagens alfandegárias. A integração cultural da América Latina precede qualquer interesse comercial. O interesse por facilitar mercados deveria se basear no sentimento de irmandade e solidariedade, esquecido no meio do medo, da desagregação e do egoísmo imposto na América Latina toda desde a invasão européia.

Nessa direção aponta a distinção "Cidadão Ilustre do Mercosul". O escritor uruguaio Eduardo Galeano foi o primeiro premiado em 2008. Os chefes de estado do Mercosul, reunidos em Montevidéu, homenagearam o autor pela sua contribuição à cultura, à identidade latino-americana e à integração regional. A homenagem poderia ser mais significativa se a sua obra "As veias abertas de América Latina", fosse de leitura obrigatória em universidades e, por que não, também no ensino médio. A solidariedade só nasce com o conhecimento do outro e este conhecimento, por sua vez, vem atrelado à educação básica. A leitura do discurso de Galeano, na ocasião da premiação, emociona e estimula um profundo sentimento de união que poucas pessoas conseguem transmitir como ele.

No próximo mês de junho será proposto em Assunção o segundo “Cidadão Ilustre do Mercosul”, ou melhor, “Cidadã Ilustre”. Será indicada para esta distinção a argentina Estela de Carlotto, presidenta da associação "Abuelas de Plaza de Mayo" ("Avós da Praça de Maio").
A associação “Abuelas” é uma ONG que tem como finalidade localizar e restituir todas as crianças seqüestradas, desaparecidas pela repressão política, às legitimas famílias e criar as condições para que nunca mais essa terrível violação aos direitos humanos volte a acontecer, exigindo castigo a todos os responsáveis. “Abuelas” já conseguiu restituir a identidade de mais de uma centena de netos. Estima-se que ainda devem existir mais de 400 com sua identidade roubada.
Na palavra das avós (em tradução livre):  "Trabalhamos por nossos netos, hoje homens e mulheres, por nossos bisnetos, cujo direito à identidade também foi violentado, e por todas as crianças das futuras gerações, para preservar suas raízes e a sua história, bases fundamentais de toda identidade"

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