quinta-feira, 14 de abril de 2011

A bíblia e o aquecedor ("la biblia contra el calefón")

O primeiro post serve para apresentar meu blog que, provavelmente, será um “cambalache”. Uma mistura de ideias e línguas, nem sempre claramente identificadas.

Cambalache é isso mesmo, uma palavra muito usada na região do “Rio de La Plata”, de forma algo despetiva, para se referir a uma coisa ou situação confusa, misturada, bagunçada e geralmente de pouco valor. Literalmente, “Cambalaches” eram lugares onde podia-se vender e comprar quase qualquer coisa, barganhando bastante. Dai a frase, famosa na Argentina, “a bíblia e o aquecedor” que denota essa mistura insolente.


O termo foi imortalizado por um tango, escrito e musicalizado pelo genial Enrique Santos Discépolo em 1935, anos da chamada “década infame”. O seu caráter revolucionário fez com que a ditadura militar, muitos anos depois, proibisse sua difusão por radio e televisão.

Aqui embaixo, coloco a letra original que, a meu ver, descreve de forma aguda e dramática os séculos XX e XXI que, gostemos ou não, devemos percorrer todos juntos.

Uma versão clássica de Cambalache foi popularizada pelo cantor uruguaio Julio Sosa. Muitas outras versões se sucederam em diferentes tempos e latitudes. Indico aqui, apenas algumas das versões que eu mais gosto. O catalã Joan Manuel Serrat tem feito uma bonita apresentação desta música. No Caribe, Cambalache foi interpretado pela cubana Liuba Maria Hevia. Mas eu sou fã mesmo da versão do Polaco Goyeneche com a música de Astor Piazzola.  Também,  a delicadeza e elegância de  Adriana Varela acompanhada pelo Sexteto Mayor é indescritível !!!

Nunca ousaria tentar traduzir um tango (sou completamente incapaz disso!). Alem das dificuldades próprias de traduzir poesia, Cambalache foi escrito em “lunfardo”, a gíria da época, necessariamente marginal, o que lhe confere uma cor e uma textura difícil de explicar. Mas, quem não se sentir confortável com o espanhol, deixo aqui uma aproximação em português (a melhor que eu conheço), muito particular, na interpretação do saudoso Raul Seixas.

No vídeo, Joan Manuel Serrat.

Cambalache (tango, 1935)
Letra e música: Enrique Santos Discépolo,
Que el mundo fue y será una porquería,
Ya lo sé;
En el quinientos seis
Y en el dos mil también;
Que siempre ha habido chorros,
Maquiavelos y estafaos,
Contentos y amargaos,
Valores y dubles,
Pero que el siglo veinte es un despliegue
De malda' insolente
Ya no hay quien lo niegue;
Vivimos revolcaos en un merengue
Y en un mismo lodo todos manoseaos.
Hoy resulta que es lo mismo
Ser derecho que traidor,
Ignorante, sabio, chorro,
Generoso, estafador.
Todo es igual; nada es mejor;
Lo mismo un burro que un gran profesor.
No hay aplazaos, ni escalafón;
Los inmorales nos han igualao.
Si uno vive en la impostura
Y otro roba en su ambición,
Da lo mismo que si es cura,
Colchonero, rey de bastos,
Caradura o polizón.
Que falta de respeto,
Que atropello a la razón;
Cualquiera es un señor,
Cualquiera es un ladrón.
Mezclaos con stavisky,
Van don bosco y la mignón,
Don chicho y napoleón,
Carnera y san martín.
Igual que en la vidriera irrespetuosa
De los cambalaches
Se ha mezclao la vida,
Y herida por un sable sin remaches
Ves llorar la biblia contra un calefón.
Siglo veinte, cambalache
Problematico y febril;
El que no llora, no mama,
Y el que no afana es un gil.
Dale nomás, dale que vá,
Que allá en el horno nos vamo a encontrar.
No pienses mas, echate a un lao,
Que a nadie importa si naciste honrao.
Que es lo mismo el que labura
Noche y día como un buey,
Que el que vive de los otros,
Que el que mata o el que cura
O esta fuera de la ley.

Um comentário:

  1. Excelente Daniel! sendo que este blog tem muito a ver com o tango, lá vai uma música do Tanguito (José Alberto Iglesias (1945-1972))

    http://www.youtube.com/watch?v=yuKLPGXOFFg

    NATURAL
    Me gusta verte llorar
    me gusta verte sonreir
    Natural

    Me gusta verte en las mañanas
    ponerte de colores
    Natural

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